sexta-feira, outubro 16, 2009

A Maldição da Falação

 

Segunda-feira, 18:15h. Você, leitor trabalhador, está no seu ponto de ônibus, calmamente comendo um pastel de queijo com salmonela mortadela enquanto espera o ônibus. O dia foi cansativo, você ainda sofre com a ressaca do domingo e o cheque especial voa batendo suas folhas ameaçadoramente ao seu redor, tal qual a águia que se alimenta do fígado de Prometeu. Na sua mente, três objetivos: chegar em casa sem ser assaltado/estuprado/esfaqueado/etc., tomar um banho quente e dormir até o dia seguinte. Qualquer outra coisa será tratada com mau humor, irritação, rudeza e outros mimos provenientes de um espírito emputecido.

Ao entrar no ônibus, você se senta ao lado de uma doce senhora de 70 anos, com um sorriso alegre e usando um vestido que parece ter sido roubado de uma quadrilha junina. Você se acomoda para dormir pelas cinco horas de engarrafamento à frente, e, quando está quase dormindo, ouve uma voz que parece surgir do 13o círculo do inferno comentar: “O céu está escuro… você acha que vai chover?”

Pronto. Adeus, cochilo. Adeus, ouvir podcasts/músicas no seu iPod. Au revoir, leitura. Aquela pessoa maldita do seu lado acaba de arruinar o resto do seu dia. Sem que você percebesse, ela armou ao seu redor uma teia quase que inescapável de papo-furado. Essa raça de bestas antropomórficas, carinhosamente apelidadas de freetalkers por um famoso podcaster, tem como seu objetivo sugar toda gota de paciência e vontade de viver daqueles ao seu redor.

Francamente, eu não entendo essa necessidade das pessoas de bater papo. Talvez porque eu seja um nerd, e, por princípio, anti-social, eu odeio quando vem puxar papo comigo. Eu não conheço a pessoa, dificilmente me interessarei por qualquer coisa que tenham a dizer. Pior quando você está ouvindo música, a pessoa ignora os fones e continua falando. Eu praticamente só uso camisas pretas, os fones do meu iPod são brancos e meu cabelo é curto. É impossível não ver a porra do fio saindo do bolso e subindo até minha garbosa cabeça. Mas o lazarento passa meia hora falando sozinho. Quando eu tiro os fones, faço a Pergunta Universal dos Audiófilos:

O que você disse? Não tava ouvindo.

E o infeliz solta um “Ah, desculpa, não vi o fone” e fala tudo de novo, me dá vontade de jogá-lo num poço cheio de crocodilos famintos.

Também há aqueles que ficam perguntando o que eu estou lendo, ouvindo, perguntando o modelo do meu celular (É um Sony-Ericsoon W200i, caso algum engraçadinho queira saber. Ainda terei o meu iPhone.), tudo isso pra bater papo ou pedir alguma coisa.

Minha sorte é que, graças à minha família, só preciso usar transporte público em pouquíssimos casos. Mas, toda vez que me atrevo a pegar um “busão”, há um filho de uma jumenta que puxa papo comigo.

Ou talvez, como dizem meus amigos, eu seja apenas anti-social e mal-humorado pra cacete.

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